quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Amor à flor da pele (Fa yeung nin wa, Kar Wai WONG, 2000)


"O encontro foi constrangedor.
Ela ficou de cabeça baixa,
esperando ele se aproximar.
Ele não veio, faltou coragem,
E ela, então, se foi."


"Aquele tempo passou
Nada do que pertenceu a ele existe mais."


"Ele se lembra dos anos passados
como se olhasse por uma janela embaçada.
O passado é uma coisa que ele vê, mas não toca.
E tudo o que ele vê é borrado e indistinto."

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

[short] Last day dream (Chris MILK, 2009)

Edifício Master (Eduardo COUTINHO, 2002)



A carreira de Eduardo Coutinho é repleta de obras marcantes para a cinematografia brasileira. Seus filmes abordam temáticas muitas vezes problemáticas e de difícil trato, como a pobreza, por exemplo. Diretor e roteirista, seus trabalhos contemplam vários tipos de linguagem: roteirizou, por exemplo, Dona flor e seus dois maridos, e dirigiu obras como Cabra marcado para morrer e Santa Marta. Coutinho mostra a imagem do pobre, do marginalizado através das lentes. Evidenciando a humildade e alegria, característicos do povo brasileiro, e mostrando humanidade onde não se costuma procurar.

Em Edifício Master o diretor mostra o outro lado de Copacabana, sempre conhecida pela bela praia, a bossa nova, o povo bonito que convive com expoentes da sociedade brasileira. Esquece-se a proximidade e permanência da pobreza mesmo nesse berço de tantos grandes nomes nacionais. Coutinho faz uma contra-análise do clichê Copacabana, evidenciando a amargura e as dores, assim como a alegria de pessoas que vivem em um edifício com superpopulação e cheio de problemas.

Em nenhum momento será mostrada a beira-mar nesse documentário. Essa é uma Copacabana desconhecida de boa parte dos brasileiros. Sem o requinte da bossa nova, ou as roupas descoladas dos jovens que andam no calçadão. Essa obra mostra toda melancolia de se morar em Copacabana, através de discursos que falam de prostituição e roubos. Um dos entrevistados acaba por sintetizar a própria idéia conceitual por trás da região ao relatar a discriminação que sofre por morar ali, sendo por tanto considerado rico. A vida difícil e as amarguras dos entrevistados são pinceladas com entrevistas espontâneas e belas de se ver, apesar do conteúdo de seus discursos. Em face de tanta tristeza e dor, existe a alegria em viver e a certeza que existem pessoas em condições muito piores. O sorriso, a melancolia e a saudade dos moradores do Edifício Master emociona.

Eduardo Coutinho atua como agente desmistificador do conceito “Copacabana”. As pessoas entrevistadas por Coutinho não tem nada do que compõe a noção do conceito: uma neurótica com fobia social que não olha para seu entrevistador ou uma prostituta adolescente que, aos vinte anos tem filha e não se envergonha de sua profissão. Essas histórias estavam escondidas num grande edifício, esquecidas ou ignoradas.

O diretor não se preocupou em manter um modelo didático de documentário. Atuando junto com seus personagens. A equipe técnica aparece em algumas cenas, a voz do diretor pode ser ouvida. Não há a necessidade de manter aparências. A espontaneidade da gravação parece combinar bastante com o ambiente e seus moradores.

Mostrando a vida dos moradores do Edifício, por vezes o diretor consegue aproximar o espectador do clima que envolve aquela gente. Os ruídos feitos pelos vizinhos, que mostra o incômodo de se viver em tão grande número em pouco espaço. Os minúsculos apartamentos e a claustrofobia do ambiente são exemplificados em planos igualmente claustrofóbicos, em corredores ou quartos apertados. A câmera parece tão espontânea quanto os entrevistados.

Esse é um documentário bastante interessante no aspecto discursivo tanto quanto técnico. Por um lado, mostra uma Copacabana desconhecida, cheia de medo e repulsa, pobreza e melancolia. Mas, por outro lado, emociona pela simplicidade, espontaneidade e alegria dos entrevistados. Muita referência a violência e drogas, entrecortados por lembranças gostosas e sorrisos sinceros. Vale lembrar que o Edifício Master está numa boa gestão: ele já foi pior, hoje está bom. Enfim, é o povo brasileiro.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Filhos da esperança (Children of men, Alfonso CUARÓN, 2006)

Mais um longa-metragem para contar o término dos dias. Baseado na obra de P. D. James, esse filme mostra um mundo que está em vias de extinção: a humanidade não procria mais – por castigo divino ou qualquer outra coisa. Em face de situações limite, o homem tem a capacidade maior de tomar decisões estúpidas e acaba por desmascarar sua humanidade travestida, nesse filme o diretor mostra como um problema atrelado ao medo e desespero pode desestruturar qualquer vestígio de valor humano.

Particularmente, gosto muito de filmes que problematizem questões como bondade, humanidade, igualdade, e todos esses conceitos batidos que as pessoas esquecem o significado. Colocar em xeque a inocência do ser humano é como dar um tapa na cara das pessoas que começam a esquecer o que uma intervenção armada nos outros países quer dizer. Há muito que as atrocidades das grandes guerras existem apenas nos livros de História, poucas pessoas lembram daquilo tudo de forma subjetiva e aproximada – o que mistifica um pouco o horror à batalha e lhe deixa sub-valorizado. Não quero dizer que as invasões bélicas de hoje se aproximem do que foi outrora, mas afirmo que um fuzil em seu rosto causa o mesmo estrago em qualquer época. Esse longa-metragem mostra bastante a inconseqüência e imponderabilidade das ideologias em conflito.

Vale a pena assistir. Apesar de ser mais um filme sobre o fim dos tempos, tem seu charme. Está em minha lista sobre o assunto, mas, bem abaixo de títulos como Cegueira ou Wall-e (fora de brincadeira). Contudo, mata a pau aquele risível 2012.

Pipoca!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O sonho de um homem ridículo (The dream of a ridiculous man, Aleksandr PETROV, 1992)


Esse é um curta de Aleksandr PETROV, cujas obras conheci há pouco tempo, mas já estou completamente viciado, devo dizer. Seus filmes são feitos em animação, pinturas maravilhosas – não dá nem para imaginar quão trabalhoso é para fazer algo como aquilo. Além das imagens muito bonitas, outra coisa chamou minha atenção: suas adaptações para o cinema de obras consagradas, como é o caso da animação que fez para o livro de Hemingway “O Velho e o Mar”.

“O sonho de um homem ridículo”, em especial, é uma adaptação de Dostoievski. O caráter onírico da obra original foi muito bem exposto no filme. (PETROV parece gostar bastante de explorar os sonhos e alucinações e faz isso muito bem). A idéia de Dostoievski parecia estar em ótimas mãos, e não tenho muito do que reclamar desse curta.

Aleksandr PETROV usa muito bem as sombras e a escuridão, o que veio bem a calhar para a gravação. Para aprofundar a melancolia do personagem.

Na minha opinião, faltou apenas um trato melhor para a primeira parte do conto. Quando o personagem transbordava depressão, alheamento e autodestruição. PETROV parece estar ansioso para chegar ao sonho do homem ridículo, e não dá tanta atenção à tristeza patente do princípio, não que na gravação o personagem esbanje alegria, mas, o visual tétrico das primeiras linhas de Dostoievski e as falas abundantemente tristes, fazem entender melhor a redenção que acontece no final da história – lhe dão mais profundidade. Faltou uma cena, a cena quando o homem está deitado em seu próprio caixão, depois do suicídio. (A escolha de deixá-la de fora é do diretor, é claro, mas eu gostaria imenso de ver essa cena no curta).

domingo, 18 de julho de 2010

Dogville (Dogville, 2003, Lars Von TRIER)

Comentar certos aspectos notáveis como o cenário do filme ou a iluminação é desnecessário, porque são facilmente perceptíveis. E cada um que encare o clima teatral do filme como quiser (eu achei genial).



O que me deixou mais excitado com o esse filme foi o final. Quando percebi que chegava-se às últimas cenas, comecei a ficar assustado com os rumos da narrativa – parecia que aquela obra muito bem trabalhada até ali cometeria o pior dos pecados cinematográficos: um final sem graça. Cheguei a pensar que perderia aquelas três horas da minha vida por nada, por uma cena sem açúcar, ou melhor, sem fel. Depois de ver tantas cenas de violência enquadradas da maneira mais aterradora possível; depois de encarar a pequena Dogville transformar-se em puro ódio e repugnância, num processo sofrível até mesmo para o espectador eu antevia: lá vem um final todo bonitinho com uma mensagem otimista e moralizante. Mas, não! E eu fiquei muito feliz com isso.

Para quem não quer descobrir certas minúcias da história, para de ler por aqui, por favor.

Sinceramente, eu não agüentava mais assistir a esse filme. Não por ser ruim, mal gravado, mal interpretado... mas, pelas imagens: imagens de violência ou imagens demasiado reais do ser humano, como ele é no âmago de sua alma corroída. Cada grito contido da pequena Grace (Nicole KIDMAN) escorria amargo por minha garganta. Cenas dolorosas de serem enxergadas, porque somos todos humanos e estamos ali sendo retratados em nosso pior ângulo, mas que existe. Depois de me deixar apavorado com as cenas, apavorei-me com a tendência ao final alegre e moralizante. Imaginei a pequena Grace olhando cada um dos moradores de Dogville e perdoando-os por seus atos, para que vivessem com sua própria vergonha e que a pacata cidade morresse esquecida entre as montanhas, que todos vivessem o horror de seu pecado até o fim de seus dias... (Olha, depois da adaptação para as telas de Ask the dust, eu desconfio de tudo).

Mas, não! Não! A protagonista não é mais uma Madre Teresa de Calcutá cinematográfica, completamente surreal aos ouvidos de reles humanos. Ela é toda real, palpável; ela tem a marca da vingança, do ódio, do rancor, tão inerentes às pessoas comuns; incapazes de esquecer facilmente das coisas e ficam se remoendo, se vingam de uma forma ou de outra – direta ou indiretamente, com palavras ou uma faca. O filme te faz sofrer tanto quando a própria protagonista, vendo tudo sem poder fazer nada. Aposto que se o final fosse diferente, as pessoas quebrariam todo o cinema. Apesar de, optando por esse fim visceral, o diretor mostra e as pessoas se afirmam com toda sua crueldade. Isso também é chocante.

Lars Von TRIER nos obriga a enxergar a pior parte de nosso ser. A vingança é plena. Não sobra ninguém para contar a história. A pequena Grace não mede esforços para degustar, pedaço a pedaço, sua desforra. E lá está a violência novamente, ainda aqui tão real. Tão humana.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Circo (The Circus, Charles CHAPLIN, 1928)

Gostoso como comer algodão doce e espalhá-lo por todo o seu rosto de brincadeira
Gostoso como briga de sorvete para ver quem pinta o nariz de quem
é como o acender as luzes e aplausos e sorrisos e palhaços no picadeiro
é como ser feliz numa noite em que se foi ao circo e voltamos sorrindo
saímos do palco ao som de nossos passos e seguimos contando estrelas
[infinito]


Eu usei uma imagem desse filme para ilustrar uma ida ao circo uma vez, agora estou assistindo-o para relembrar aqueles bons tempos de palhaços amestrados, atiradores de facas enjaulados, anões engolidores de canivetes e mulheres barbadas mal depiladas. Foi o sonho de ir ao circo, na verdade, nunca se concretizou - é a lembrança em potencial de um dia que não aconteceu - e o filme é recordar-se de uma vontade que não teve tempo de se concretizar. Uma saudade em potencial, uma lembrança de todo imaginária.

Ir ao circo requer uma pessoa ao seu lado para rir com você. Ri melhor quem ri acompanhado, porque riem juntos e um da cara do outro e de tudo o que for. Riem até doer a barriga, ou mesmo chorar - mas de alegria. É o riso gostoso de quem nunca esqueceu como se faz - igual andar de bicicleta - mas leva a vida distraído pelos problemas e não sorri tanto quanto gostaria. Ri melhor quem sabe que a vida é triste, assim como o palhaço lá no fundo, mas, como ele, segue sorrindo das poucas coisas boas que encontra pelo caminho. Viver em um picadeiro, sob as luzes e aplausos não é eterno, uma hora a alegria desaparece e o show acaba - mas, o palhaço não se esquece como se faz para sorrir e não perde a graça que há nisso. Pois, há graça em ser feliz, assim como há graça em ser triste. Sorrir demasiado causa rugas. Chorar demasiado causa cara feia.

Baita filme triste e feliz ao mesmo tempo. O vagabundo é um personagem bastante melancólico quando você olha por trás de todos aqueles tombos e sorrisos. Muitas de suas histórias tem coisas demais para dizer além do que se vê em apenas um sorriso abafado por conta de um chute no traseiro de um policial. Por isso eu gosto de Chaplin: meu palhaço tristíssimo favorito.

domingo, 30 de maio de 2010

Bete Balanço (Bete Balanço, Lael RODRIGUES, 1984)

Esse filme é muito divertido, é como um daqueles clipes da década de oitenta em versão longa metragem – com direito a passos ensaiados e tudo o mais. Não fica só nisso, claro, mas esse é um aspecto notável.

Explora-se bastante a juventude dessa década – a geração Copacabana, para ser mais específico. Então, a praia está lá sim; também a correria musical; também as drogas; e também Cazuza. Por ser um filme gravado no momento mesmo que reflete, você chega bastante próximo daquele cotidiano. Eu vi fuscas (apesar de eles serem praticamente atemporais), eu vi aqueles shortinhos curtíssimos para homens e, claro, ouvi as gírias do tempo em que meu pai era adolescente. Bacaninha, não é? Além disso, mostra muito do que era a sexualidade de então e, se você encarar a protagonista como uma anti-heroína, percebe a moralidade tacanha (que parecia estar longe do Rio de Janeiro, parece indicar que conservadorismo era coisa de interiorano). A máxima “Sexo, Drogas e Rock’n’Roll” não poderia faltar, inclusive tem cenas de sexo ao som de Rock’n’Roll. (E se você procurar bem, vai encontrar um disco dos Rolling Stones na foto acima). Esse é um filme que diz muito dos porras-loucas roqueiros de oitenta.




Uma coisa que eu não gostei, em absoluto, é a sonoplastia. Por vezes se assemelha a um vídeo-game, o que pode estar ligado aos primeiros passos dessa tecnologia, por vezes são barulhos estranhos. Pensar que os sons são os mesmos de algum jogo parece um paradoxo ou uma indireta: a protagonista, Bete (Débora Bloch), vive sua vida como bem entende, livre e leve, ouvir barulho de vídeo-game lembra manipulação, mas, ela é o oposto disso, o vídeo-game seria então apenas um aspecto daquela época que apareceu na tela (mas nem sempre a cinematografia é inocente, na verdade procuro interpretar os filmes através de seu aspecto “safadinho”); assim, por outro lado, a idéia de manipulação que a sonoplastia trás pode ser uma mensagem para o espectador: mostrando uma protagonista livre e sem medo de correr atrás de seus sonhos em oposição à falta de vida e capacidade de realização de desejos das pessoas que tem algum medo de ser ou do julgamento que farão de si.

A trilha sonora ficou por conta de Cazuza e Frejat e, claro, a música “Bete Balanço” é o tema principal. Além da interpretação do Barão Vermelho na trilha, aparecem vários ícones do Rock brasileiro daquela década – até o Lobão está lá! Além disso, como eu já disse, o filme tem muitas características de um clipe da década de oitenta, mas agora em longa metragem; não sou muito fã do modo de gravar daquela época, mas, admito, é gostoso de assistir e enxergar alguns aspectos do passado.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Faz bastante tempo que não comento filme algum nesse lugar, fiquei, inclusive, devendo alguns comentários. Verdade é que não estou num bom momento, estou sem paciência para nada; sem dormir; sem vontade. Começo a ver um filme e logo me canso das imagens e o diálogo parece enfadonho. Não é nada específico contra o cinema, também larguei alguns livros lidos pela metade por aqui. Logo volto a escrever.

domingo, 18 de abril de 2010

Oldboy (Oldboy, Chanwook PARK, 2003)

Peguei este filme por indicação de uma garota que passou por minha vida – não assisti em tempo para dizer a ela o que achei, mas assisti, acho que para lembrar. Enfim, encontrei o DVD e trouxe para casa.

Quando li a sinopse fiquei um pouco desapontado, parecia uma história bastante conhecida já (Oh Dae Su, o protagonista, é sequestrado sem saber por quê, nem por quem, fica preso em um quarto por quinze anos; nesse tempo a raiva começa a dominar sua vida, quando lhe deixam sair tudo o que quer é vingança), isso parece muito com vários filmes que vi – inclusive alguns com (eargh) Schwarzenegger, que nem de longe me são agradáveis; Pensei que seria apenas mais um filme embasado numa luta cega por vingança, em que tudo explode a seu tempo. Mas, continuei assistindo e me surpreendi bastante com a intrincada história que foi tecida, duas horas do meu fim-de-semana passadas na frente da televisão e não me arrependo!

O que, na minha opinião, torna esse filme diferente de todos os outros caras raivosos do cinema é um background deveras complicado. Quando você começa a entender o motivo das coisas o que vem à sua cabeça é algo como “Oh! My dog!” e não o costumeiro “Tudo faz sentido agora”.Mesmo o paradigma da raiva por vezes é quebrado e tudo se confunde, o que parecia caminhar para um desfecho de jeito violento logo vira numa esquina que ninguém espera. É claro que a violência é muito usada no filme (devo dizer que as cenas em que arrancam dentes com um martelo são fortíssimas, ainda mais com Vivaldi tocando ao fundo – o que dá uma angústia horrível); mas não é só isso.

Também, uma cena me chamou a atenção e seu significado. Num momento Oh Dae Su tem uma ilusão, onde formigas estão por seu corpo todo. O significado que o próprio texto do filme dá mais tarde é bastante interessante: as formigas andam sempre em grupo, por isso algumas pessoas muito sozinhas têm ilusões com elas. Achei isso muito bacana, mas isso porque o filme, a expressão e seu significado tem um sentido muito específico para mim – nada mais. Não vem ao caso.

Outra coisa que reparei bastante é o protagonista em si, Oh Dae Su (Min Sik Choi), que no início está numa delegacia, preso por estar bêbado. Ele é bastante normal, o que torna o processo de passar a viver em virtude do ódio mais encarniçado. Quero dizer, ele não é um brutamontes que viu a família morrer e quer vingança a todo custo, a raiva florescendo tão rápido quanto uma explosão; Oh Dae Su é um cara normal e bêbado, preso por quinze anos e nesse tempo você vê sua noção de humanidade indo pelo ralo, ele passa a enxergar a vida por um prisma de ódio, gradativamente se tornando um monstro - o processo todo está ali. Nas primeiras imagens ele é pura emoção, depois é dor contida que quer explodir – você vê isso se concretizando, tudo dando lugar à dor e ao ressentimento, até um grand finale impressionante. Não vou falar do final, seria muita grosseria.
Ontem não foi um bom dia. Era uma sexta-feira, o que significa (finalmente) fim-de-semana, mas isso não quer dizer que obrigatoriamente tudo tenha que ser agradável; muitos fins-de-semana dão errado, incluindo as sextas-feiras e até mesmo alguns feriados. Não fui trabalhar, nem apareci nas aulas: não queria sair do meu quarto e não-me-importa-o-que-tem-lá-fora. Fui encontrar alguns amigos no fim da tarde, depois que os deixei, fiquei pensando no que havia para fazer a noite. Poderia ir a algum lugar que venda café e sentar para ler um bom livro; ou poderia ir a um bar aqui perto encontrar amigos, mas então havia o risco de ver uma certa garota que geralmente está por lá e taquicardia e... enfim; dentre estas duas opções, acabei indo à locadora de filmes - não estava a fim de ler, afinal.

Tão logo cheguei à locadora, me arrependi de ter ido. O que eu queria era ficar sem fazer nada em casa, quieto no meu canto. Mas já que estava lá, comecei a procurar algo para assistir. Encontrei alguns filmes que significam alguma lembrança (ex. Apenas uma vez; De tanto bater, meu coração parou; Brilho eterno de uma mente sem lembranças), fiquei observando suas capas coloridas. (Cheguei à conclusão que um gênero específico de comédia romântica tem um padrão inquebrável na hora de fazer as capas, outra hora falo sobre isso). Depois de um tempo considerável para me decidir, cheguei ao balcão com quatro filmes e voltei para casa para assisti-los. Tinha em mãos Oldboy (Oldboy, Chanwook PARK, 2003), que peguei por ter sido indicado algum tempo atrás, por alguém importante para mim; Bem me quer, mal me quer (À la Folie... Pas du Tout, Laetitia COLOMBANI, 2002), com Audrey Tautou como protagonista, peguei por sua causa apenas; Pergunte ao Pó (Ask the dust, Robert TOWNE, 2006), que é baseado no livro homônimo, um dos meus favoritos; e por último, mas não menos importante, Alice no país das maravilhas (Alice in wonderland, GERONIMI-JACKSON, 1951), para entrar no clima, afinal, semana que vem estréia oficialmente aqui no Brasil a versão do Tim Burton. Vou comentar os filmes conforme vou assistindo.

sábado, 17 de abril de 2010

Eu sou muito curioso. Quando vejo alguma coisa que não entendo ou que me chame a atenção, logo quero compreender seus mecanismos, como chegou até àquele nível ou simplesmente saber o que está acontecendo. Às vezes basta uma olhada, uma hipótese, um artigo a respeito; isso é o que acontece quase sempre, perco o interesse logo e um conceito simplório já é o suficiente. Mas, outras coisas (talvez aquelas que eu já tenha alguma propensão a me interessar), me incomodam mais; são perguntas que não saem de minha cabeça, interpretações, críticas, abstrações. Acabo por me apaixonar pelas dúvidas que afloram daquele terreno.

Geralmente é uma espécie de paixão à primeira vista e logo estou correndo atrás de bibliografia a respeito, e tudo o mais que possa haver. Foi assim que me apaixonei pela Música, apesar de não ser bom nisso. Também a Literatura se tornou minha amante, acabei colecionando livros, títulos e histórias (bem guardadas em minhas lembranças, talvez para contar para alguém), aprendi a escrever de acordo com uma imagem de beleza criada por meus padrões e embasada em meus autores favoritos; minha argumentação é totalmente pautada nessas obras; talvez o que me atraia na literatura seja compreender as outras pessoas através do que elas escrevem e de como fazem isso. A História é outra paixão, me encantei por seus olhos quando percebi que meus professores sabiam alguns milênios de passado, ou seja, eu teria um campo bastante amplo para saciar minha curiosidade; acabei por me tornar estudante de História. Como gosto da possibilidade de saber tudo, leio sobre todas as épocas históricas, e todo tipo de literatura, escuto vários estilos musicais; mas, obviamente, tenho minhas preferências - que não serão discutidas agora, talvez outra hora.

De uns tempos para cá, me interessei por Cinema também - e agora estou iniciando um blogpara falar a respeito, como eu disse, acabo me apaixonando por essas coisas. E Cinema é minha mais nova dama. Nosso romance começou há pouco tempo, como um caso mais sério. Aprendi a gostar de filmes ainda criança, na verdade: meu pai me habituou a ver alguns todas as semanas (no tempo do VHS ainda), na época assistíamos ao gosto dele - majoritariamente filmes de ação, que hoje não são meus favoritos. Me levou ao cinema pela primeira vez, mas não lembro qual filme assistimos nesse dia, apesar de lembrar de vários que vimos juntos. Eu ainda era muito pequeno, e o Cinema para mim era apenas o fascínio das imagens e o medo dos filmes de terror (quando eu puxava o cobertor para cobrir meus olhos, numa cena muito assustadora, e vários pesadelos depois). Depois de um tempo comecei a me interessar mais por filmes, muito disso devido à literatura, que foi adaptada para o cinema e com isso muitas obras diletas minhas. Até um dia em que comecei a assistir (agora já em DVD) um coletânea de filmes dos Lumière, então eu vi uma imagem que mexeu muito comigo; havia uma câmera com a lente voltada para o lado de fora da janela de um trem - um traveling, talvez o primeiro - e, devagar, iam passando pela tela os vários prédios da época, repletos da neve do inverno europeu. Imagens muito simples, não haviam pessoas nas ruas, nem animais ou coisa alguma, mas achei linda essa maneira simplória de retratar o passado - que é meu grande amigo. Logo percebi que os filmes eram muito mais complexos do que eu imaginava, e acabei por encontrar a subjetividade dos lápis dos autores de meus livros queridos, nas câmeras dos diretores de Cinema.

Agora pretende escrever aqui algumas sugestões de filmes, críticas e o que mais me apetecer, na forma de crônicas de meus dias, como um roteiro de minha vida e um livro de minhas idéias. Tudo com direito a pipoca e coca-cola e uns amassos lá na última fila de cadeiras: Boa diversão!