sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Circo (The Circus, Charles CHAPLIN, 1928)

Gostoso como comer algodão doce e espalhá-lo por todo o seu rosto de brincadeira
Gostoso como briga de sorvete para ver quem pinta o nariz de quem
é como o acender as luzes e aplausos e sorrisos e palhaços no picadeiro
é como ser feliz numa noite em que se foi ao circo e voltamos sorrindo
saímos do palco ao som de nossos passos e seguimos contando estrelas
[infinito]


Eu usei uma imagem desse filme para ilustrar uma ida ao circo uma vez, agora estou assistindo-o para relembrar aqueles bons tempos de palhaços amestrados, atiradores de facas enjaulados, anões engolidores de canivetes e mulheres barbadas mal depiladas. Foi o sonho de ir ao circo, na verdade, nunca se concretizou - é a lembrança em potencial de um dia que não aconteceu - e o filme é recordar-se de uma vontade que não teve tempo de se concretizar. Uma saudade em potencial, uma lembrança de todo imaginária.

Ir ao circo requer uma pessoa ao seu lado para rir com você. Ri melhor quem ri acompanhado, porque riem juntos e um da cara do outro e de tudo o que for. Riem até doer a barriga, ou mesmo chorar - mas de alegria. É o riso gostoso de quem nunca esqueceu como se faz - igual andar de bicicleta - mas leva a vida distraído pelos problemas e não sorri tanto quanto gostaria. Ri melhor quem sabe que a vida é triste, assim como o palhaço lá no fundo, mas, como ele, segue sorrindo das poucas coisas boas que encontra pelo caminho. Viver em um picadeiro, sob as luzes e aplausos não é eterno, uma hora a alegria desaparece e o show acaba - mas, o palhaço não se esquece como se faz para sorrir e não perde a graça que há nisso. Pois, há graça em ser feliz, assim como há graça em ser triste. Sorrir demasiado causa rugas. Chorar demasiado causa cara feia.

Baita filme triste e feliz ao mesmo tempo. O vagabundo é um personagem bastante melancólico quando você olha por trás de todos aqueles tombos e sorrisos. Muitas de suas histórias tem coisas demais para dizer além do que se vê em apenas um sorriso abafado por conta de um chute no traseiro de um policial. Por isso eu gosto de Chaplin: meu palhaço tristíssimo favorito.