quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Edifício Master (Eduardo COUTINHO, 2002)



A carreira de Eduardo Coutinho é repleta de obras marcantes para a cinematografia brasileira. Seus filmes abordam temáticas muitas vezes problemáticas e de difícil trato, como a pobreza, por exemplo. Diretor e roteirista, seus trabalhos contemplam vários tipos de linguagem: roteirizou, por exemplo, Dona flor e seus dois maridos, e dirigiu obras como Cabra marcado para morrer e Santa Marta. Coutinho mostra a imagem do pobre, do marginalizado através das lentes. Evidenciando a humildade e alegria, característicos do povo brasileiro, e mostrando humanidade onde não se costuma procurar.

Em Edifício Master o diretor mostra o outro lado de Copacabana, sempre conhecida pela bela praia, a bossa nova, o povo bonito que convive com expoentes da sociedade brasileira. Esquece-se a proximidade e permanência da pobreza mesmo nesse berço de tantos grandes nomes nacionais. Coutinho faz uma contra-análise do clichê Copacabana, evidenciando a amargura e as dores, assim como a alegria de pessoas que vivem em um edifício com superpopulação e cheio de problemas.

Em nenhum momento será mostrada a beira-mar nesse documentário. Essa é uma Copacabana desconhecida de boa parte dos brasileiros. Sem o requinte da bossa nova, ou as roupas descoladas dos jovens que andam no calçadão. Essa obra mostra toda melancolia de se morar em Copacabana, através de discursos que falam de prostituição e roubos. Um dos entrevistados acaba por sintetizar a própria idéia conceitual por trás da região ao relatar a discriminação que sofre por morar ali, sendo por tanto considerado rico. A vida difícil e as amarguras dos entrevistados são pinceladas com entrevistas espontâneas e belas de se ver, apesar do conteúdo de seus discursos. Em face de tanta tristeza e dor, existe a alegria em viver e a certeza que existem pessoas em condições muito piores. O sorriso, a melancolia e a saudade dos moradores do Edifício Master emociona.

Eduardo Coutinho atua como agente desmistificador do conceito “Copacabana”. As pessoas entrevistadas por Coutinho não tem nada do que compõe a noção do conceito: uma neurótica com fobia social que não olha para seu entrevistador ou uma prostituta adolescente que, aos vinte anos tem filha e não se envergonha de sua profissão. Essas histórias estavam escondidas num grande edifício, esquecidas ou ignoradas.

O diretor não se preocupou em manter um modelo didático de documentário. Atuando junto com seus personagens. A equipe técnica aparece em algumas cenas, a voz do diretor pode ser ouvida. Não há a necessidade de manter aparências. A espontaneidade da gravação parece combinar bastante com o ambiente e seus moradores.

Mostrando a vida dos moradores do Edifício, por vezes o diretor consegue aproximar o espectador do clima que envolve aquela gente. Os ruídos feitos pelos vizinhos, que mostra o incômodo de se viver em tão grande número em pouco espaço. Os minúsculos apartamentos e a claustrofobia do ambiente são exemplificados em planos igualmente claustrofóbicos, em corredores ou quartos apertados. A câmera parece tão espontânea quanto os entrevistados.

Esse é um documentário bastante interessante no aspecto discursivo tanto quanto técnico. Por um lado, mostra uma Copacabana desconhecida, cheia de medo e repulsa, pobreza e melancolia. Mas, por outro lado, emociona pela simplicidade, espontaneidade e alegria dos entrevistados. Muita referência a violência e drogas, entrecortados por lembranças gostosas e sorrisos sinceros. Vale lembrar que o Edifício Master está numa boa gestão: ele já foi pior, hoje está bom. Enfim, é o povo brasileiro.

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