
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
Amor à flor da pele (Fa yeung nin wa, Kar Wai WONG, 2000)

quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Edifício Master (Eduardo COUTINHO, 2002)

A carreira de Eduardo Coutinho é repleta de obras marcantes para a cinematografia brasileira. Seus filmes abordam temáticas muitas vezes problemáticas e de difícil trato, como a pobreza, por exemplo. Diretor e roteirista, seus trabalhos contemplam vários tipos de linguagem: roteirizou, por exemplo, Dona flor e seus dois maridos, e dirigiu obras como Cabra marcado para morrer e Santa Marta. Coutinho mostra a imagem do pobre, do marginalizado através das lentes. Evidenciando a humildade e alegria, característicos do povo brasileiro, e mostrando humanidade onde não se costuma procurar.
Em Edifício Master o diretor mostra o outro lado de Copacabana, sempre conhecida pela bela praia, a bossa nova, o povo bonito que convive com expoentes da sociedade brasileira. Esquece-se a proximidade e permanência da pobreza mesmo nesse berço de tantos grandes nomes nacionais. Coutinho faz uma contra-análise do clichê Copacabana, evidenciando a amargura e as dores, assim como a alegria de pessoas que vivem em um edifício com superpopulação e cheio de problemas.
Em nenhum momento será mostrada a beira-mar nesse documentário. Essa é uma Copacabana desconhecida de boa parte dos brasileiros. Sem o requinte da bossa nova, ou as roupas descoladas dos jovens que andam no calçadão. Essa obra mostra toda melancolia de se morar em Copacabana, através de discursos que falam de prostituição e roubos. Um dos entrevistados acaba por sintetizar a própria idéia conceitual por trás da região ao relatar a discriminação que sofre por morar ali, sendo por tanto considerado rico. A vida difícil e as amarguras dos entrevistados são pinceladas com entrevistas espontâneas e belas de se ver, apesar do conteúdo de seus discursos. Em face de tanta tristeza e dor, existe a alegria em viver e a certeza que existem pessoas em condições muito piores. O sorriso, a melancolia e a saudade dos moradores do Edifício Master emociona.
Eduardo Coutinho atua como agente desmistificador do conceito “Copacabana”. As pessoas entrevistadas por Coutinho não tem nada do que compõe a noção do conceito: uma neurótica com fobia social que não olha para seu entrevistador ou uma prostituta adolescente que, aos vinte anos tem filha e não se envergonha de sua profissão. Essas histórias estavam escondidas num grande edifício, esquecidas ou ignoradas.
O diretor não se preocupou em manter um modelo didático de documentário. Atuando junto com seus personagens. A equipe técnica aparece em algumas cenas, a voz do diretor pode ser ouvida. Não há a necessidade de manter aparências. A espontaneidade da gravação parece combinar bastante com o ambiente e seus moradores.
Mostrando a vida dos moradores do Edifício, por vezes o diretor consegue aproximar o espectador do clima que envolve aquela gente. Os ruídos feitos pelos vizinhos, que mostra o incômodo de se viver em tão grande número em pouco espaço. Os minúsculos apartamentos e a claustrofobia do ambiente são exemplificados em planos igualmente claustrofóbicos, em corredores ou quartos apertados. A câmera parece tão espontânea quanto os entrevistados.
Esse é um documentário bastante interessante no aspecto discursivo tanto quanto técnico. Por um lado, mostra uma Copacabana desconhecida, cheia de medo e repulsa, pobreza e melancolia. Mas, por outro lado, emociona pela simplicidade, espontaneidade e alegria dos entrevistados. Muita referência a violência e drogas, entrecortados por lembranças gostosas e sorrisos sinceros. Vale lembrar que o Edifício Master está numa boa gestão: ele já foi pior, hoje está bom. Enfim, é o povo brasileiro.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Filhos da esperança (Children of men, Alfonso CUARÓN, 2006)

Mais um longa-metragem para contar o término dos dias. Baseado na obra de P. D. James, esse filme mostra um mundo que está em vias de extinção: a humanidade não procria mais – por castigo divino ou qualquer outra coisa. Em face de situações limite, o homem tem a capacidade maior de tomar decisões estúpidas e acaba por desmascarar sua humanidade travestida, nesse filme o diretor mostra como um problema atrelado ao medo e desespero pode desestruturar qualquer vestígio de valor humano.
Particularmente, gosto muito de filmes que problematizem questões como bondade, humanidade, igualdade, e todos esses conceitos batidos que as pessoas esquecem o significado. Colocar em xeque a inocência do ser humano é como dar um tapa na cara das pessoas que começam a esquecer o que uma intervenção armada nos outros países quer dizer. Há muito que as atrocidades das grandes guerras existem apenas nos livros de História, poucas pessoas lembram daquilo tudo de forma subjetiva e aproximada – o que mistifica um pouco o horror à batalha e lhe deixa sub-valorizado. Não quero dizer que as invasões bélicas de hoje se aproximem do que foi outrora, mas afirmo que um fuzil em seu rosto causa o mesmo estrago em qualquer época. Esse longa-metragem mostra bastante a inconseqüência e imponderabilidade das ideologias em conflito.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
O sonho de um homem ridículo (The dream of a ridiculous man, Aleksandr PETROV, 1992)
Esse é um curta de Aleksandr PETROV, cujas obras conheci há pouco tempo, mas já estou completamente viciado, devo dizer. Seus filmes são feitos em animação, pinturas maravilhosas – não dá nem para imaginar quão trabalhoso é para fazer algo como aquilo. Além das imagens muito bonitas, outra coisa chamou minha atenção: suas adaptações para o cinema de obras consagradas, como é o caso da animação que fez para o livro de Hemingway “O Velho e o Mar”.
“O sonho de um homem ridículo”, em especial, é uma adaptação de Dostoievski. O caráter onírico da obra original foi muito bem exposto no filme. (PETROV parece gostar bastante de explorar os sonhos e alucinações e faz isso muito bem). A idéia de Dostoievski parecia estar em ótimas mãos, e não tenho muito do que reclamar desse curta.
Aleksandr PETROV usa muito bem as sombras e a escuridão, o que veio bem a calhar para a gravação. Para aprofundar a melancolia do personagem.
domingo, 18 de julho de 2010
Dogville (Dogville, 2003, Lars Von TRIER)
Comentar certos aspectos notáveis como o cenário do filme ou a iluminação é desnecessário, porque são facilmente perceptíveis. E cada um que encare o clima teatral do filme como quiser (eu achei genial).

O que me deixou mais excitado com o esse filme foi o final. Quando percebi que chegava-se às últimas cenas, comecei a ficar assustado com os rumos da narrativa – parecia que aquela obra muito bem trabalhada até ali cometeria o pior dos pecados cinematográficos: um final sem graça. Cheguei a pensar que perderia aquelas três horas da minha vida por nada, por uma cena sem açúcar, ou melhor, sem fel. Depois de ver tantas cenas de violência enquadradas da maneira mais aterradora possível; depois de encarar a pequena Dogville transformar-se em puro ódio e repugnância, num processo sofrível até mesmo para o espectador eu antevia: lá vem um final todo bonitinho com uma mensagem otimista e moralizante. Mas, não! E eu fiquei muito feliz com isso.
Para quem não quer descobrir certas minúcias da história, para de ler por aqui, por favor.
Sinceramente, eu não agüentava mais assistir a esse filme. Não por ser ruim, mal gravado, mal interpretado... mas, pelas imagens: imagens de violência ou imagens demasiado reais do ser humano, como ele é no âmago de sua alma corroída. Cada grito contido da pequena Grace (Nicole KIDMAN) escorria amargo por minha garganta. Cenas dolorosas de serem enxergadas, porque somos todos humanos e estamos ali sendo retratados em nosso pior ângulo, mas que existe. Depois de me deixar apavorado com as cenas, apavorei-me com a tendência ao final alegre e moralizante. Imaginei a pequena Grace olhando cada um dos moradores de Dogville e perdoando-os por seus atos, para que vivessem com sua própria vergonha e que a pacata cidade morresse esquecida entre as montanhas, que todos vivessem o horror de seu pecado até o fim de seus dias... (Olha, depois da adaptação para as telas de Ask the dust, eu desconfio de tudo).
Mas, não! Não! A protagonista não é mais uma Madre Teresa de Calcutá cinematográfica, completamente surreal aos ouvidos de reles humanos. Ela é toda real, palpável; ela tem a marca da vingança, do ódio, do rancor, tão inerentes às pessoas comuns; incapazes de esquecer facilmente das coisas e ficam se remoendo, se vingam de uma forma ou de outra – direta ou indiretamente, com palavras ou uma faca. O filme te faz sofrer tanto quando a própria protagonista, vendo tudo sem poder fazer nada. Aposto que se o final fosse diferente, as pessoas quebrariam todo o cinema. Apesar de, optando por esse fim visceral, o diretor mostra e as pessoas se afirmam com toda sua crueldade. Isso também é chocante.
Lars Von TRIER nos obriga a enxergar a pior parte de nosso ser. A vingança é plena. Não sobra ninguém para contar a história. A pequena Grace não mede esforços para degustar, pedaço a pedaço, sua desforra. E lá está a violência novamente, ainda aqui tão real. Tão humana.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
O Circo (The Circus, Charles CHAPLIN, 1928)
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domingo, 30 de maio de 2010
Bete Balanço (Bete Balanço, Lael RODRIGUES, 1984)

Explora-se bastante a juventude dessa década – a geração Copacabana, para ser mais específico. Então, a praia está lá sim; também a correria musical; também as drogas; e também Cazuza. Por ser um filme gravado no momento mesmo que reflete, você chega bastante próximo daquele cotidiano. Eu vi fuscas (apesar de eles serem praticamente atemporais), eu vi aqueles shortinhos curtíssimos para homens e, claro, ouvi as gírias do tempo em que meu pai era adolescente. Bacaninha, não é? Além disso, mostra muito do que era a sexualidade de então e, se você encarar a protagonista como uma anti-heroína, percebe a moralidade tacanha (que parecia estar longe do Rio de Janeiro, parece indicar que conservadorismo era coisa de interiorano). A máxima “Sexo, Drogas e Rock’n’Roll” não poderia faltar, inclusive tem cenas de sexo ao som de Rock’n’Roll. (E se você procurar bem, vai encontrar um disco dos Rolling Stones na foto acima). Esse é um filme que diz muito dos porras-loucas roqueiros de oitenta.

Uma coisa que eu não gostei, em absoluto, é a sonoplastia. Por vezes se assemelha a um vídeo-game, o que pode estar ligado aos primeiros passos dessa tecnologia, por vezes são barulhos estranhos. Pensar que os sons são os mesmos de algum jogo parece um paradoxo ou uma indireta: a protagonista, Bete (Débora Bloch), vive sua vida como bem entende, livre e leve, ouvir barulho de vídeo-game lembra manipulação, mas, ela é o oposto disso, o vídeo-game seria então apenas um aspecto daquela época que apareceu na tela (mas nem sempre a cinematografia é inocente, na verdade procuro interpretar os filmes através de seu aspecto “safadinho”); assim, por outro lado, a idéia de manipulação que a sonoplastia trás pode ser uma mensagem para o espectador: mostrando uma protagonista livre e sem medo de correr atrás de seus sonhos em oposição à falta de vida e capacidade de realização de desejos das pessoas que tem algum medo de ser ou do julgamento que farão de si.
quarta-feira, 5 de maio de 2010
sexta-feira, 23 de abril de 2010
quarta-feira, 21 de abril de 2010
domingo, 18 de abril de 2010
Oldboy (Oldboy, Chanwook PARK, 2003)
Peguei este filme por indicação de uma garota que passou por minha vida – não assisti em tempo para dizer a ela o que achei, mas assisti, acho que para lembrar. Enfim, encontrei o DVD e trouxe para casa.

O que, na minha opinião, torna esse filme diferente de todos os outros caras raivosos do cinema é um background deveras complicado. Quando você começa a entender o motivo das coisas o que vem à sua cabeça é algo como “Oh! My dog!” e não o costumeiro “Tudo faz sentido agora”.Mesmo o paradigma da raiva por vezes é quebrado e tudo se confunde, o que parecia caminhar para um desfecho de jeito violento logo vira numa esquina que ninguém espera. É claro que a violência é muito usada no filme (devo dizer que as cenas em que arrancam dentes com um martelo são fortíssimas, ainda mais com Vivaldi tocando ao fundo – o que dá uma angústia horrível); mas não é só isso.
Também, uma cena me chamou a atenção e seu significado. Num momento Oh Dae Su tem uma ilusão, onde formigas estão por seu corpo todo. O significado que o próprio texto do filme dá mais tarde é bastante interessante: as formigas andam sempre em grupo, por isso algumas pessoas muito sozinhas têm ilusões com elas. Achei isso muito bacana, mas isso porque o filme, a expressão e seu significado tem um sentido muito específico para mim – nada mais. Não vem ao caso.
