
Explora-se bastante a juventude dessa década – a geração Copacabana, para ser mais específico. Então, a praia está lá sim; também a correria musical; também as drogas; e também Cazuza. Por ser um filme gravado no momento mesmo que reflete, você chega bastante próximo daquele cotidiano. Eu vi fuscas (apesar de eles serem praticamente atemporais), eu vi aqueles shortinhos curtíssimos para homens e, claro, ouvi as gírias do tempo em que meu pai era adolescente. Bacaninha, não é? Além disso, mostra muito do que era a sexualidade de então e, se você encarar a protagonista como uma anti-heroína, percebe a moralidade tacanha (que parecia estar longe do Rio de Janeiro, parece indicar que conservadorismo era coisa de interiorano). A máxima “Sexo, Drogas e Rock’n’Roll” não poderia faltar, inclusive tem cenas de sexo ao som de Rock’n’Roll. (E se você procurar bem, vai encontrar um disco dos Rolling Stones na foto acima). Esse é um filme que diz muito dos porras-loucas roqueiros de oitenta.

Uma coisa que eu não gostei, em absoluto, é a sonoplastia. Por vezes se assemelha a um vídeo-game, o que pode estar ligado aos primeiros passos dessa tecnologia, por vezes são barulhos estranhos. Pensar que os sons são os mesmos de algum jogo parece um paradoxo ou uma indireta: a protagonista, Bete (Débora Bloch), vive sua vida como bem entende, livre e leve, ouvir barulho de vídeo-game lembra manipulação, mas, ela é o oposto disso, o vídeo-game seria então apenas um aspecto daquela época que apareceu na tela (mas nem sempre a cinematografia é inocente, na verdade procuro interpretar os filmes através de seu aspecto “safadinho”); assim, por outro lado, a idéia de manipulação que a sonoplastia trás pode ser uma mensagem para o espectador: mostrando uma protagonista livre e sem medo de correr atrás de seus sonhos em oposição à falta de vida e capacidade de realização de desejos das pessoas que tem algum medo de ser ou do julgamento que farão de si.